domingo, 21 de novembro de 2010

.. carta para um amor perdido

Em primeiro lugar, alimento a esperança de que esta carta chegue definitivamente em suas mãos. Aqui do outro lado está tudo em paz. Acho que não estou sendo sincero. Não posso mentir para você. Melhor dizer: “quase tudo”.
Não sei como você está. Não sei onde está morando. Não sei como está a sua saúde, enfim,
estou precisando desesperadamente de notícias suas!
Apesar da distância física que teima em nos separar e de todos esses anos sem contato -
dez anos! -, quero que saiba que o carinho que sinto em relação a você jamais acabou. Pelocontrário, você não imagina as dores dos golpes em meu peito que a dona Saudade insiste em desferir, me atacando, me ferindo, me enlouquecendo. Eu sinto demasiadamente a sua falta, meu amigo. 
Hoje moro em uma ilha. Chama-se “Lovland”. É um lugar muito agradável e tranqüilo, perfei-to para se viver uma velhice feliz - sim, Timóteo, eu já me sinto velho antes de completarquarenta anos. Nos meus amplos momentos de ócio, passo horas a caminhar pela praia, mo- lhando os pés e parte das minhas coxas grossas e insistentemente brancas nas ondas calmas. Brinco com as águas e deixo-as purificar o que resta do meu corpo. Caminho por horas seguidas, pensando na vida, no passado, no futuro... e em você.
De tempos em tempos me pego sonhando com você. E quando isso acontece, uma dor física
 terrível toma conta do meu peito - na verdade invade todo meu corpo. Angústia. Desolação. Passo muito mal.
Quantas vezes não acordo chorando, imaginando que você está ao meu lado, e você não
está. São sonhos muito realistas, onde consigo ver você, tocar em você, sentir até o perfumedo seu corpo franzino. E o que me resta de consolo quando acordo é abraçar fortemente meu segundo travesseiro.
Quando esses sonhos assolam minhas madrugadas, passo dias e dias matutando sobre
você, tentando imaginar como você está, onde está, o que está fazendo. Eu acredito que sou capaz de sentir a sua dor e pressinto que a sua angústia é idêntica a minha. 
Décima quarta. Meu Deus, quantas cartas já escrevi e postei. Perdi o número de tardes quefiquei sentado na varanda de casa ansioso pelas respostas? Mas não tenho idéia se vocêrecebeu ou não todos os meus pedidos de socorro e atenção. Sinto que uma mão sorrateiraesconde minhas palavras escritas, impedindo que o meu amor chegue até você.

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